Gosto de ti
Eu não gosto de muitas pessoas. Ou melhor, para evitar confusões de virgens ofendidas, não há muitas pessoas de quem eu goste. Não é defeito, é feitio.
Da mesma maneira que há muita gente que não gosta de mim. É uma coisa que aceito com naturalidade. Só que a diferença para muitas dessas virgens ofendidas é que eu não quero saber de quem não gosta de mim. É para o lado que durmo melhor. Tão simples quanto isso.
Mas se gosto de poucas pessoas, a menos ainda digo que gosto delas. Uma vez mais, não é defeito, é feitio.
E se por acaso digo que gosto, estou a distingui-las das demais pessoas. As de quem gosto. Tal como o tempo que guardamos para alguém, verbalizar que gostamos de alguém é especial. O objectivo é não banalizar, não tanto as palavras, mas esse sentimento de sentir que há pessoas diferentes das outras.
As pessoas, as nossas pessoas, são importantes. E é importante dizer-lhes o quão importantes são.
Para dizermos que gostamos de alguém, precisamos de encontrar as palavras certas. Para não dar azo a mal entendidos e para expressar exactamente aquilo que queremos dizer. Frase a frase, palavra a palavra, sílaba a sílaba. É que, quando dizemos a alguém que gostamos dela, estamos a dar um passo em frente numa relação, é o pesar das consequências de confiar e correr o risco e assumi-las ao avançar-se para aquilo que é um verdadeiro investimento em alguém.
É como se, de repente, fôssemos trapézio sem rede, como na música do Rui. É escolhermos olhar o abismo com ar de desafio irreverente e a certeza ciente de que não é esse escuro vazio que nos vai fazer vacilar no caminho que escolhemos.
Não há muitas pessoas de quem eu goste. Já o disse e tenho orgulho em repeti-lo. Não há, não pode haver, espaço para muitas pessoas na nossa vida e no nosso coração.
À semelhança das palavras, gosto das relações íntimas, profundas. Só daquelas que valem a pena. Em que sei, conheço e dou a conhecer tudo, sem medos nem contemplações. Não só as alegrias e euforias, mas principalmente cada recanto mais escuro e sombrio da nossa existência. Os medos e frustrações.
E aceito e acolho e dou tudo isso de braços abertos. As qualidades e os defeitos. A nossa existência reduzida à mais simples singularidade, o que nos torna cada um único à nossa maneira.
Gosto de ti. Já te disse que gosto de ti, não já? Claro que já. É que gosto mesmo. És dos meus. E eu vou dar tudo por ti, mesmo quando te pareço distante e nem sabes quando foi a última vez que te disse alguma coisa. Eu não esqueço nem deixo cair os meus, estão sempre junto ao meu coração.
Gosto de ti? Nunca duvides. É claro que gosto de ti.
June 18th, 2015 at 13:37
«e eu vou dar tudo por ti, mesmo quando te pareço distante e nem sabes quando foi a última vez que te disse alguma. eu não esqueço nem deixo cair os meus, estão sempre junto ao meu coração.»
not true.
June 19th, 2015 at 00:57
Jogar ao toque e foge é coisa de que gosto muito pouco, Mariana.
May 21st, 2020 at 10:09
[…] papel e canetamas essas palavras fogem-mecomo fogem todas as outrasaquelas queporventuraseriam as palavras certase o que ficasenão a frustração de não conseguir escrever-tealguma coisa de […]