o que poderias ter sido?
hesitou. “e se correr mal?” tirou o maço do bolso, levou um cigarro à boca e acendeu-o. não conseguiu à primeira, mas nem ligou. inspirou e, à medida que o fumo lhe preenchia os pulmões, afastou os pensamentos derrotistas. “vai correr tudo bem”.
levantou-se, abriu a porta e desceu. chovia. “isto começa bem”. deitou para trás das costas mais um pensamento negativo e enfrentou a chuva. chegou ao metro mesmo a tempo de ver a porta fechar-se e a carruagem desaparecer no túnel escuro. o painel indicava o tempo para a próxima.
dez minutos.
começou a desesperar por um cigarro, mas cerrou os punhos dentro dos bolsos do casaco e manteve-se imóvel, contra a parede, à espera do metro. de vez em quando tirava violentamente a mão do bolso, sem paciência, e via, incrédulo, que o tempo demorava a passar.
“já estou atrasado. se calhar é um sinal”. as dúvidas voltaram a assolar-lhe o pensamento. tirou o telemóvel do bolso e reparou que ainda não lhe tinha ligado. “se calhar, não quer que vá lá ter”.
tentou ligar-lhe, mas a rede não dava sinal de vida. “olha, agora foi o telemóvel que morreu. era só o que me faltava”. tentou carregar nos poucos botões que o smartphone de última geração tinha, passou os polegares freneticamente pelo ecrã táctil, mas ele não respondia. “bonito”.
continuou a pensar na falta de sorte que aquela manhã de segunda-feira de dezembro lhe reservara enquanto entrava na carruagem. nem um lugar vago. “puta que pariu isto também”. já estava prestes a desistir, sair na próxima paragem, voltar para trás e não sair de casa o resto da semana. tirou novamente o telemóvel do bolso, mas continuava sem ligar-se.
quando estava a guardá-lo, de repente, apitou. uma mensagem, remetente desconhecido. intrigado, abriu-a.
será que aguentas viver o resto da tua vida na angústia de não saber o que poderias ter sido?
olhou em volta, à procura de quem pudesse ter-lhe enviado aquela mensagem. estava toda a gente absorta nas suas vidas, ignorando o conflito interior por que passava. guardou o telemóvel, ainda a pensar em que raio acabara de se passar. “eis a minha paragem”.
inspirou fundo, pegou num cigarro e acendeu-o. puxou a gola para cima, saiu do metro, subiu as escadas e foi ser feliz.
February 8th, 2013 at 11:41
Muito Bom