Critica por favor o meu elevado ego

09/04/2023

candeia que vai adiante é que alumia

música,versos — João Oliveira @ 02:20

sempre acreditei
que pontes em chamas
iluminavam meu caminho

mas fui sempre eu a pegar-lhes fogo

passaste anos
a despejar ameaçadoramente
litros e litros de gasolina
na ponte que nos unia

para tua surpresa
fui eu que a incendiei
com a beata de um pachorrento cigarro
assim que o terminei

fumei-o enquanto esperava
que atravessasses
essa ponte

agora
reduzida
a
cinzas

:: quinze de setembro de dois mil e vinte e um

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24/08/2021

um coração

versos — João Oliveira @ 23:59

quem vive com o coração
morre pelo coração
e eu já nem sei

se
ainda
pode
chamar-se
a
isto

coração

quebraste-me
e deixaste-me aqui
partido
derrotado
sem propósito ou vontade
de continuar

aniquilei a alma
que coração já não é
a noite regressa
para tomar conta da minha mente
e engolir o pouco que resta

fico apenas

abandonado

segurando entre os dedos
os pedaços
do
que
outrora
foi

um coração

::  trinta de agosto de dois mil e vinte

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21/05/2020

palavras (3)

versos — João Oliveira @ 00:18

todos os dias escrevo para ti
na fútil tentativa de encontrar palavras
– se não as palavras
pelo menos algumas palavras –
para que saibas o que tenho para dizer-te
e o quanto gosto de ti

faço uns rabiscos na minha cabeça
confiante de que me lembrarei deles mais tarde
quando tiver à minha frente
um pedaço de papel e caneta

mas essas palavras fogem-me
como fogem todas as outras
aquelas que
porventura
seriam as palavras certas

e o que fica
senão a frustração de não conseguir escrever-te
alguma coisa de jeito?

palavras que não soem a ridículo
palavras que não ecoem na minha cabeça
palavras que preencham o vazio dos meus sonhos

ficas apenas tu
e os rascunhos do que te fui escrevendo
amarrotados
no fundo da minha mente
esquecidos

as palavras a serem arrancadas da alma
a caneta na mão direita
e o coração a fitar-me
em tom de gozo

26/03/2020

não

versos — João Oliveira @ 03:11

tu não és a tua idade
nem o tamanho da roupa que vestes
tu não és o teu peso
nem a cor do teu cabelo
não és o teu nome
ou as covinhas que tens na cara
és os livros que lês
e todas as palavras que falas,
és a tua voz estremunhada pela manhã
e todos os sorrisos que tentas ocultar
és a doçura no teu riso
e todas as lágrimas que já choraste
és as canções que cantas em voz alta
quando sabes que estás sozinha
és todos os sítios onde já estiveste
e aquele a que chamas de lar
és as coisas em que acreditas
e as pessoas que amas
és as fotos nas paredes do teu quarto
e o futuro com que sonhas
és feita de tanta beleza
mas parece que te esqueceste disso
quando decidiste definir-te
por tudo aquilo que tu não és.

:: tradução livre do poema not, de erin hansen

09/03/2020

cada vez mais

versos — João Oliveira @ 01:10

quando ela se deixa adormecer
no aconchego do meu peito
de mãozinha fechada sobre a boca
e respirar compassado com o sono
sinto-me o homem mais forte do mundo

realizado
completo
uno

capaz de enfrentar o mundo
e protegê-la de todo e qualquer mal
apagar-lhe os traumas do passado
e despachar a bagagem emocional
a minha e a dela
para juntos seguirmos viagem
em direcção a um futuro em conjunto
longe daqui

aperto-a forte
quando lhe sobressalta o sono
beijo-lhe a fronte
e arrumo-lhe atrás da orelha
aquela madeixa de cabelo
que teima em cair-lhe sobre a face

sinto-a segura
entregue e sem receios
no calor do meu abraço

deixo-me então adormecer
sorriso parvo na cara
a alma descansada

e a certeza
de
um
amanhã
cada vez mais
risonho

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