Critica por favor o meu elevado ego

12/04/2024

é preciso treino para seres bom

manifesto — João Oliveira @ 14:30

quando era mais novo h̶a̶v̶i̶a̶ ̶u̶m̶a̶ ̶c̶o̶i̶s̶a̶ ̶m̶u̶i̶t̶o̶ ̶b̶o̶n̶i̶t̶a̶ ̶q̶u̶e̶ ̶e̶r̶a̶ ̶a̶ ̶s̶e̶d̶u̶ç̶ã̶o̶, o meu pai costumava tentar mostrar-me boa música. lembro-me que, quando ia buscar-me à escola, punha a tocar no carro os cd de jazz que sacava da net, enquanto me dizia, parafraseando o fernando jorge, “isto é que é boa música”.

na altura era um teenager inconsciente, adolescente irreverente com vontade de ser diferente e meio que torcia o nariz quando ele punha a tocar os discos de jazz dele. naquela altura eu queria era ouvir as músicas do momento, que as rádios da moda passavam, e o jazz parecia-me – perdoem-me, reconheço agora, a blasfémia – uma amálgama de sons de que eu não conseguia ainda destrinçar, habituado que estava ao (ainda maior) ruído da música que na altura ouvia – que ia do punk-rock ao emo, sem esquecer o techno, o house e o hip-hop – que servia de banda sonora aos meus primeiros passos de dança no início dos anos dois mil.

apesar de conseguir apreciar alguma coisa, sempre foi um estilo de música com que rapidamente me aborrecia, por isso nunca lhe prestei grande atenção. mais recentemente, houve quem me tenha mostrado o quão bom o jazz é. e, apesar de não acreditarem que prestei mais atenção do que pensam, aprendi, nos últimos tempos, a apreciar jazz.

continuo a aprender a apreciar.

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31/03/2023

simulacro

manifesto — João Oliveira @ 20:00

desconfio que não saberias reconhecer um homem bom, daqueles por quem tanto suspiras e a quem anseias entregar-te de corpo, alma e coração. não o reconhecerias mesmo que estivesse à tua frente, a implorar pela tua atenção.

dizes querer homens carinhosos, queridos, respeitadores e compreensivos, mas acabas sempre por escolher gajos com a mania, brutos e mal educados.

estás destinada a amores maiores.

é que nem imaginas que podes, e mereces, ter o melhor dos dois mundos. alguém que te provoca e brinca contigo, mas que sabe ouvir-te, guiar-te e ajudar a encontrar-te quando mais precisas.

31/10/2022

nunca mais é para sempre

manifesto — João Oliveira @ 21:26

eu sorria porque era para sempre
sorria porque queria fugir do cliché e fazer diferente
a tentar ser melhor nesta coisa de mostrar pelas palavras e pelos actos
a certeza dos sentimentos bem definidos
mas por vezes pouco exactos
eu queria muito e tento tanto ser melhor do que isto que sou
não percebo o que fiz
porque o que fiz foi irreflectido
até ser tarde demais e o que fiz te magoou
e acabo por quebrar o prometido (é de vidro)

ninguém é quem queria ser
e eu só queria ser melhor do que isto
de forma a não precisar tantas vezes de buscar o teu perdão
para que nada tenha sido em vão
mas sou eu o meu maior imprevisto
sou burro e de vistas curtas para o que é importante
e só faço merda, sobretudo

e tu és tão melhor do que isto

.

eu sorria porque achava que era para sempre
eu sorria porque achava que era diferente
eu não sou os outros, dizia-te eu
eu não sou os outros, acreditava eu
nós somos responsáveis por quem cativamos
e devemos tomar conta daqueles por quem nos apaixonamos
como quando guardava o teu polegar por baixo do meu quando te dava a mão
entrelaçava o meu indicador no teu mindinho
e tu aquecias-me o coração
mas eu fiz um trabalho de merda a cuidar de ti
enquanto andava demasiado ocupado a lutar contra um mundo
que não quer saber de mim
tu tentavas segurar as pontas e eu não vi
eu não vi e perdoa-me por ter sido cego
desculpa se não vi que estavas a chegar ao limite (outra vez)
e tu sabes e eu sei que isto não é desculpa
porque não devia ter esperado por isto ou deixar-nos chegar aqui

por isso, peço-te
rogo-te
e imploro-te
esquece o homem que te desapontou
que te desiludiu
que te magoou
que te desencantou
matei quem te fez chorar de dor e de raiva
recomecei com a chuva que cai e lava

nunca mais é para sempre
para sempre sempre foi apenas um lugar em ti
se sobrevivermos a isto, casamos
e eu já só ansiava por contar os anos
é que casar sempre foi apenas uma maneira de ser para sempre (não tem de ser)
foi por isso que eu comprei o anel
é por isso que te tatuei na pele
é por isso que continuo fiel
e eu não perco a esperança
perdoa-me se mais esta espécie de poema te cansa
é que hoje eu já não arrisco
porque é só por ti que eu risco (é só mais um risco)

entretanto a chuva cai lá fora
a casa está tão fria como no dia em que foste embora
mas sem ti uma casa não é um lar
e esta deixou de o ser no dia em que partiste (e me partiste)
as paredes perguntam-me por ti e eu não sei
não sei responder-lhes que tu não voltas mais
a cama está vazia
despida
sem ti
e eu só te imagino a dormires no meu abraço
anseio por repousar a cabeça e descansar no aconchego do teu regaço
continuo a dormir com a porta do quarto entreaberta
à espera de te ver passar no corredor
a esperança é a única coisa que me resta
e eu já não sei o que fazer com toda esta dor
mas já passou tanto tempo
e ainda não consegui chegar-me para o teu lado da cama
e eu sei que tentei preencher o vazio que ficou
porque o que levaste foi tão mais do que o pouco que ficou

.

nunca mais é para sempre
e eu sempre quis saber se saberias lidar com a dor
a minha, a tua, a dor do nosso amor
mas quando foi preciso ficar e lutar
foi quando desististe e decidiste tentar escapar (da tua dor)
porque tu nunca foste muito de esperar
nunca foste de lutar, nunca foste de ficar
é que eu também quero tudo e também quero tudo já
mas também tenho de saber lidar com os encartes que a vida me dá
porque eu não fui sempre um mau namorado
eu não fiz tudo errado
eu não fiz nem metade
do que tu achas que sou culpado
antes só que mal apaixonado
e eu não posso ficar para sempre agarrado ao passado
não posso continuar para sempre ancorado
amarrado, congelado, petrificado
a uma ideia de mim que vais insistindo em alimentar
na tua cabeça só para aliviar (a tua dor)

é que há muito que eu já aprendi a lidar com a dor
a minha, a tua, a do nosso (des)amor
já deixei de dar à importância à minha dor
que é saber que tu continuas refém da tua própria dor
e eu continuo pacientemente à espera
que esqueças e ultrapasses o que te dói
e que descubras finalmente que o passado dói
mas só dói se deixares que doa

nunca mais é para sempre

01/06/2022

sacana (3)

manifesto — João Oliveira @ 00:00

um dos muitos trabalhos que o meu irmão já teve enquanto chef foi a trabalhar num aldeamento na comporta durante o verão. antes de começar a trabalhar, eu e a j. fomos almoçar e passar o dia com ele e o meu pai, que o levou até lá. era domingo e acabou por ser uma tarde bem passada, entre o peixe fresco grelhado do almoço e conhecer o espaço onde o meu irmão ia trabalhar.

o meu pai ficou algum tempo depois de almoço, mas acabou por ir embora mais cedo, porque a viagem de regresso a coimbra (ainda) era longa. eu e a j. ficámos mais algum tempo, para fazer companhia ao meu irmão, e acabámos por jantar os três na comporta. acho que havia um jogo na televisão nessa noite, mas não me lembro bem.

à noitinha, já depois do jantar e de termos deixado o meu irmão no aldeamento onde ia começar a trabalhar no dia seguinte, fizemos a viagem de regresso a lisboa debaixo de um céu estrelado como só o alentejo consegue presentear-nos. íamos cansados, mas felizes por aquilo que o dia tinha acabado por tornar-se.

durante a viagem, ligou-me o meu avô. estava internado no curry cabral, para fazer uns exames, por isso atendi, temendo que fosse alguma emergência. ele sabia que eu e a j. estávamos à procura de casa, a nossa primeira casa, e queria saber como estava a procura. disse-lhe que íamos aproveitar as férias para descansar, em setembro íamos começar a procurar a sério e tranquilizei-o.

o meu avô acabou por morrer algumas horas depois deste telefonema. percebi – meses mais tarde, quando comecei a processar muito do que ainda está por processar – que aquela chamada tinha sido ele a despedir-se de mim. queria ter a certeza, antes de partir, de que eu estava bem entregue.

sentir falta de alguém que está lá em cima é toda uma nova forma de ter o coração partido. sei que ele continua a olhar por mim, lá em cima, mas o sacana continua a fazer-me falta como nunca.

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17/02/2022

eu nunca gostei de fácil

manifesto — João Oliveira @ 18:00

josé saramago escrevia que “quem não tiver já nada para dizer e continuar a escrever é um crime, porque não tem o direito de continuar a escrever se não tem nada para dizer”. estou a parafrasear a “dica” que o sam the kid tão bem samplou para o poetas de karaoke e que tantas vezes usei no passado para justificar a minha ausência mais prolongada.

não é que eu não tenha nada para dizer. é que o que ando a escrever não está a sair como eu quero e eu sou bastante exigente comigo mesmo. escrever bonito é fácil. escrever como o pedro chagas freitas, a margarida rebelo pinto ou o gustavo santos é fácil. eu nunca gostei de fácil e não vai ser agora que vou começar.

por isso, vou continuar por aqui. a escrever, a torcer o nariz para o que escrevi e continuar à procura das palavras certas para dar forma ao que tenho para dizer. posso dizer, no entanto, que estou prestes a terminar o “poema” (o porquê das aspas) que comecei a escrever há quase dois anos – a ver se sai daqui por um mês – e há mais qualquer coisa a sair entretanto.

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