Critica por favor o meu elevado ego

02/03/2021

e eu, especado, a olhar

ensaio — João Oliveira @ 17:26

um vazio profundo. observo o abismo em frente, em pensamentos absorto, e mal me apercebo que ele me fita de volta. a música não me entretém, quase me enfada, na verdade, porque falha a sua tarefa de fazer-me esquecer este marasmo que me rodeia, de transportar-me para lá de mim.

estalo os dedos, impaciente, um tique nervoso que não reúne consenso entre os que me dizem que devo fazê-lo e os que me rogam que o não faça, mas que não entendem que o seu único propósito mais não é do que aliviar a dor que se vai instalando em mim. esqueço-me que é também o corpo a pedir-me mais um cigarro, um pachorrento cigarro, que mais não faz do que adiar esta impaciência que não consigo, ou não quero, explicar.

já bebi café? levanto a cabeça do caderno onde faço estes rabiscos e conto duas chávenas entornadas sobre a mesa. também não seria a cafeína que iria fazer alguma coisa por mim hoje. o terceiro fica para depois.

deixo-me ficar a observar o abismo em frente e imagino como seria perder-me no seu abraço. sinto-o a chamar por mim, enquanto reflicto: não sei se tenho forças para recusar o seu chamamento. ou, sequer, a vontade.

o que tenho para fazer perde importância. o que me importa e interessa também não faço. não consigo.

abandono os rabiscos do caderno porque, apesar de habitual, nada do que escrevo sai como quero à primeira, o que contribui para a minha impaciência. não leio, porque as palavras não se fixam na minha mente, que permanece fixada no abismo em frente. tudo o que imagino na minha cabeça não concretizo e a impaciência leva-me a tentar estalar novamente os dedos, entre pachorrentos cigarros e chávenas de café engolidas num trago.

imagino-me a observar-me a mim próprio, de fora, enquanto fito perante mim o abismo que me chama. tudo o resto passa-me ao lado, indiferente, como o fumo que se esvai do cigarro que matei no café entornado ao meu lado.

e eu, especado, a olhar.

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30/04/2020

daqui por vinte anos

ensaio — João Oliveira @ 00:00

daqui por vinte anos, quero estar a contar aos nossos filhos como foi o nosso primeiro encontro. a história toda: como me deste uma tampa da primeira vez que te convidei para sair, como te fazia rir com as minhas tiradas tão cheesy e tão pirosas ou como aquele concerto dos ornatos violeta, numa noite em que mercúrio tinha acabado de entrar em retrógrado, foi o ponto de partida para uma vida em conjunto.

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22/05/2013

horas rotineiras

ensaio,linhas — João Oliveira @ 15:19

no início puxavas por mim, no encanto que o desejo pela mútua descoberta despertava em nós. eu tentava compreender-te até ao mais ínfimo detalhe e tu querias saber se eu seria mesmo capaz de alguma vez desvendar todos os teus segredos.

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04/11/2012

exercício (2)

ensaio,exercício,versos — João Oliveira @ 02:23

a cidade está deserta
mas alguém apagou os sinais
que me levavam de volta a casa
para junto de ti, de mim, de nós
em todo o lado a tua ausência que me grita
ora violenta, ora demente
para me lembrar que tu não voltas
antes de chegar o fim de tudo

28/12/2011

velha glória

ensaio,versos — João Oliveira @ 04:00

a minha velha glória
podia ser contada numa breve história
sem grandes dons de oratória
de paixão ambulatória
de dor expiatória
e dificuldade respiratória
que não foge à tua convocatória
tal a vontade inflamatória
de consequência insatisfatória
e sensualidade provocatória
desta experiência sensória
deixando de lado a vida acessória
autêntica linha divisória
de uma vida cheia de culpa recriminatória
e cumplicidade incriminatória
alucinação exploratória
de sensação aleatória
que termina sem queixa acusatória
despedida recompensatória
nem festa em conservatória
numa conclusão revogatória
de leitura pouco obrigatória
sem direito a audição interrogatória

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